Ventos Kármicos

    Até onde pode ir nossa força de vontade para compreender e lidar com os eventos kármicos de nossa vida de maneira consciente? Será que ele comanda toda nossa existência? Até onde vai sua influência nas nossas escolhas e caminhos de vida?

    Muitas vezes temos a sensação de que o que estamos fazendo é puramente automático, como se a rotina fosse uma forma de robotizar nossa existência e sistematizar nossa própria vida. Todos passam por essa reflexão em algum momento, e isso pode assombrar algumas pessoas pela vida inteira. Mas um questionamento importante a se fazer nesses momentos de reflexão, é: “será mesmo que a rotina é o problema?” A depender do ponto de vista, essa resposta pode mudar, o que é perfeitamente natural. Portanto, seguiremos aqui uma das possíveis respostas que é: “Não! A rotina não é a culpada, a verdadeira culpa está na pessoa que se permitiu entrar neste estado alienado dentro de suas próprias tarefas”. Essa resposta pode parecer soberba, mas mesmo eu enquanto escrevo, sei que ainda estou preso nessa ideia sistematizada. Todos nós, de alguma forma, estamos. Uma experiência que pode nos ajudar nesse desprendimento da automatização da vida moderna, é a compreensão, mesmo que superficial, da ação do karma e como podemos nos permitir ser levados pelo sopro deste vento implacável.

    Como toda ação tem uma reação, assim se dá o karma, que é uma das ou senão a principal base de funcionamento do universo até onde compreendemos. Tudo que fizemos, fazemos e iremos fazer será influenciado por nossas condições kármicas, que podem determinar o resultado final de todas as ações que temos, desde o material, ao mental e ao espiritual. A crença popular do karma é simples como deve ser: você colhe o que planta. Isso não poderia estar mais exato, porém a ação do karma não é imediata, tampouco visível aos nossos olhos, que reproduzem ilusões a todo momento e não expressam a verdadeira experiência da realidade. Por isso muitas pessoas desacreditam desta lei a nível espiritual, e limitam ela apenas às ações da matéria física, o que é um erro compreensível. Após essa pequena reflexão acerca do karma, podemos retornar ao assunto que nos é de interesse neste texto: vamos nos deixar levar pelos ventos kármicos de nossa vida, não devemos nos manter pesados neste vendaval, lutando para não sermos levados, mas sim devemos nos tornar leves e deixar esse vento primordial nos guiar, como uma pipa sem linha, cujo destino é para onde o vento levar.

    Essa ideia pode parecer abstrata e um pouco assustadora, pois levando isso ao pé da letra, seria como você abandonar seu livre arbítrio e deixar as casualidades da vida tomarem conta do seu destino. Se levarmos essa ideia a partir desse ponto de vista, muito possivelmente viveremos uma vida completamente instável e problemática, isso é algo perigoso, por isso devemos refletir um pouco mais a respeito do que realmente são esses ventos kármicos para não cair em mais ilusões.

    O vento kármico é aquele sopro divino, que traz todas as consequências de seus atos, todas as coisas que você já aprendeu e experenciou, tudo que você foi e é. Enquanto estamos encarnados, sempre sentimos essa brisa agindo em nossa vida, porém muitas vezes quando os ventos começam a se intensificar nós lutamos contra ele, com medo de onde podemos ser levados. Isso é o que ocorre quando nos alienamos perante nossa própria realidade. Amarramos nossa própria vida em algo que imaginamos ser firme, a fim de que o vento não nos leve. Porém em algum momento a corda sempre se romperá, e com isso somos arrastados pelo vendaval a fim de enfrentar nosso karma. Quando imaginamos a ideia do “se deixar levar”, devemos nos ver como parte desse vento. Ele não é nosso inimigo, a não ser que nós tenhamos agido em nossas vidas de maneira que tenha resultado em muitos maus karmas. Mesmo que esse seja o caso, este vento não é nada mais do que a própria essência da consciência de cada pessoa, é tudo que forma nosso caráter e consciência atuais.

    Após a morte, de acordo com o Livro Tibetano Dos Mortos, o espírito do desencarnado em algum momento será levado por esses ventos kármicos, de maneira que ele retornará a diversos locais que foram importantes em sua última encarnação. Será levado por esses ventos para ver as pessoas com as quais ele tinha apego, e não conseguirá contê-los, sendo sempre levado a força por eles. Para nós que estamos encarnados é impossível receber essa influência direta dos ventos kármicos, mas não quer dizer que estamos livres dele enquanto estamos aqui. Nossas ações na vida sempre vão criando caminhos que resultam em uma consequência direta. O que seria isso se não o próprio karma? O vento não te puxou e não te forçou a tomar tal decisão, porém a partir do momento que você decide algo, uma corrente de ar é criada que abre seus caminhos de modo que os ventos do karma agirão de maneira infalível.

    Se deixar levar pelos ventos kármicos não é deixar seu livre arbítrio de lado, muito menos deixar a vida terrena assumir o controle. Se deixar levar por esses ventos é ser quem você realmente é, assumir as consequências de seus atos de maneira humilde e se permitir receber toda a sabedoria ancestral que você acumula. É dar a mão para seu sagrado anjo guardião e deixar ele te guiar.

A rotina é algo que permite ao ser humano construir coisas com frequência e constância, permite que ele se adapte para que tenha o melhor aproveitamento em suas tarefas, e isso é algo que devemos aceitar. Porém, nunca devemos nos permitir viver no automático, transformando nossa vida na rotina em si. Quando o vento kármico age livremente, damos espaço para nossa auto consciência divina, que nos leva para o caminho que estamos destinados. Ou melhor, o destino que nós estamos criando para nós desde sempre.


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